sábado, 4 de dezembro de 2010

TEQUINHO

Hoje é aniversário do Teti. O Aérton (anagrama de Renato) Miguel Hermes de Almeida é um guri pequeno, duas prateleiras além de mim e no meio de um monte de caras mais velhos e muito, mas muito mais violentos. A Coronel Agra era uma rua pacífica, mas seus moradores não.
Explico: na minha infância, o BULLYING (em espanhol, BULISMO, muito melhor) era muito mais forte, mas bota mais nisso, do que hoje, amanhã e nunca mais. A cada discussão que eu tinha com alguém, eu apanhava, então era todo dia. Meu irmão Dé, com quatro anos, e nosso primo Tonho (irmão do Teti), cinco anos a menos de praia, também se metiam em encrencas, e eu era o maior da nossa turma, tinha que proteger os guris. Aí veio o Teti, sempre sorrindo, cabeça de martelo, arranjava bronca com os caras que até eu evitava. Mas tranquilo, eu desenvolvi a estratégia do urso. Uns podem dizer que é esperteza, mas não se nasce inteligente. Toda a inteligência vem da dor. Eu ficava na frente dos caras, encarando, e os valentões não sabiam o que fazer. Davam empurrões, às vezes davam uns tostões, que é bater com o joelho no lado da coxa, e sempre muita ofensa, pra ver se o cara saía do sério, vinha pra cima e aí eles tinham motivo pra bater sem piedade.  Era tipo um código de ética, se algum adulto aparecia, os valentões levantavam os ombros e mostravam as palmas das mãos: "Mas foi ele que começou"! Os violentos também prestam contas a alguém.
Mas a minha estreia em ser o Nanny quase foi a maior cagada de todos os tempos. Estávamos em Santo Amaro, um balneário de Rio que tinha uma ilha, a gente ficava em casas na beira da água e passava o dia na ilha. Normalmente se ia de barco, alguns corajosos iam a nado. Bão, na ilha, tinha uma parte onde o pessoal tomava banho, e ali estava eu, o Dé, o Tonho, e o Tim, que vem a ser o tio Heron Borges de Almeida, falecido precocemente num acidente de ônibus, ele era o motorista, pai do Tonho e Teti. De repente surge no leito do rio, uma coisa brilhante ao sol do meio-dia. Eu pergunto pro Tim: Tu viu aquilo? O que será que é? O Tim saiu nadando na direção do objeto, a uns vinte metros. Chegou lá, era um prato grande de papel, desses que se coloca bolo de aniversário em cima. Então ele se virou e desatou a nadar de volta, desesperado. Eu me estiquei pra ver se enxergava o que ele estava enfrentando, talvez a corrente da água estivesse puxando ele, mas não. Ele veio a toda velocidade, quando chegou perto, onde já dava pra caminhar, o Tim veio saltando, parecia o lagarto Jesus Cristo, chegou do meu lado e enfiou a mão na água. Puxou dali o Tonho, que estava do meu lado e tinha pisado num "panelão", como se chamam as mossas, baixadas, no fundo do rio. E eu necas, não tinha visto nada. Foi tudo em silêncio, o quase afogamento e o resgate. O Antônio Augusto surgiu com os cabelos loiros enrolados nos dedos do pai, os olhos grelados combinando com a pele azul clara e a boca roxa, encolhido numa trouxinha, com uma película de água em volta disso tudo, parecia que estava nascendo outra vez - e tava - subitamente, respirou de novo. E tudo passou da tragédia à glória em dois segundos e mais um bocadinho.
Lembro também de ouvir os dois casais, meus pais, a tia e o tio, conversando, depois disso, a respeito da minha capacidade de cuidar dos pequenos. "É cedo ainda" disse alguém, e ficou assim, eu tinha oito anos, poxa. Era cedo mesmo. Muitas roubadas ainda por vir haha.
Eniuêi, me perdi nos traços das traças, Feliz aniversário, Tequinho (era como o Vô Vicente te chamava, lembra?)

A única foto que achei do Teti é de 85, ele foi piloto de bicicross, campeão brasileiro, foi pra França disputar o Mundial. É o terceiro da esquerda pra direita, erquendo o troféu, ao lado do cara de boné xadrez.

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